*Pe. Ramiro José Gregório
“O presépio da fome”

Eu estava em minha casa, mais precisamente na cozinha, diante de uma vasilha cheia de talheres em posição vertical para escorrer. Peguei um deles e veio-me de repente a idéia de transformá-lo em uma obra de arte. O que fazer deles? Pensei… pensei e decidi: farei um presépio diferente.
"Mãos à obra”. Da caixa de ferramentas eu trouxe algumas pequenas e poucas. Tomei uma frigideira, fiz diversos furos em seu fundo e fui nela parafusando os talheres. Uma colher de café deitada no fundo da frigideira emborcada era Jesus Menino. Uma colher e um garfo dos lados direito e esquerdo se transformaram em Maria e José. Três outros talheres fixados em fila se tornaram os três magos. Enquanto os fixava ia eu pensando na multidão de gente faminta, subnutrida e doente neste nosso planeta. Terra fértil para ser plantada existe e braços para semear também. Mas a injustiça social gera a falta do essencial para o sustento… Há preguiça? Será mais fácil estender a mão para pedir que arregaçar as mangas para trabalhar? É tudo tão complexo!… Se divido meus bens aos pobres, me transformo num deles e não soluciono o problema… Novamente pensei… e pensei. E concluí a mensagem. É como dizia a Beata Madre Teresa de Calcutá: - “Faço o que posso. O resto, não é comigo”…
Pronto. Minha obra estava pronta. Totalmente despojada, simples e pobre. Não possuía nenhuma beleza mas era para mim rica de significados; interrogações, preocupações, desolações. Parei. Contemplei-a.
Se você tivesse que dar um nome à esta obra, que nome daria?… Eu dei a ela o nome de “Presépio da fome”.
* Pe. Ramiro José Gregório
Vigário da Paróquia Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar
Diocese de São João del-Rei (MG)