sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Quênia: a visita do Papa foi um dom de Deus

O Papa Francisco concluiu na tarde de sexta-feira (27/11), a primeira etapa da sua 11° Viagem Apostólica Internacional que o levou ao Quênia. Nesta segunda parte da viagem, Uganda recebe o sucessor de Pedro.Já antes de deixar o Vaticano o Papa enviou uma vídeo mensagem aos três países, Quênia, Uganda e República Centro-Africana, que ele visitaria na qual recordava o motivo de sua viagem. “Venho como um ministro do Evangelho para proclamar o amor de Jesus Cristo e sua mensagem de reconciliação, perdão e paz. A minha visita tem como objetivo confirmar a comunidade católica na fé em Deus e no testemunho do Evangelho, que ensina a dignidade de cada homem e mulher, e nos recomenda a abrir os nossos corações aos outros, especialmente aos pobres e necessitados”, frisou ainda o Pontífice. Em um país que tem sido alvo de várias ações violentas da milícia islâmica Al-Shabaab, Francisco recordou os “bárbaros ataques” no Westgate Mall, na Universidade de Garissa e em Mandera, que provocaram centenas de mortos, nos últimos dois anos. O Papa sublinhou que o diálogo ecumênico e inter-religioso “não é um luxo”, mas algo “essencial” num mundo “ferido por conflitos e divisões”. Segundo o Papa, o mundo de hoje testemunha o “avanço de novos desertos”, criados por uma “cultura do egoísmo e da indiferença”. No final da quinta-feira Francisco, em discurso, falou sobre a Conferência da ONU em Paris, dedicada ao clima e afirmou que um eventual fracasso da mesma seria “catastrófico” para a humanidade. “Seria triste e – atrevo-me a dizer – até catastrófico se os interesses particulares prevalecessem sobre o bem comum e chegassem a manipular as informações para proteger os seus projetos”. A 21.ª Conferência da ONU sobre Alterações Climáticas (COP 21) vai se realizar entre dia 30 de novembro e 11 de dezembro em Paris, procurando alcançar na capital francesa um acordo mundial sobre metas vinculativas de redução de emissões de gases com efeito de estufa para substituir o Protocolo de Kyoto e limitar o aumento médio da temperatura global em 2º.  “A Igreja não é uma empresa, não é uma ONG. A Igreja é um mistério, é o mistério do olhar de Jesus sobre cada um”, insistiu. Na sexta-feira dois momentos importantes antes de deixar o país: o encontro com a comunidade pobre de Kangemi e o encontro com os jovens no estádio da cidade. Kangemi é um bairro onde se encontra uma das favelas de Nairóbi com uma população multiétnica de mais de 100 mil pessoas. “Sinto-me em casa ao partilhar este momento com irmãos e irmãs que – não tenho vergonha de o dizer – ocupam um lugar especial na minha vida e nas minhas opções. Estou aqui, porque quero que saibam que suas alegrias e esperanças, angústias e sofrimentos não me são indiferentes. Sei das dificuldades que enfrentam, todos os dias! Como não denunciar as suas injustiças”?, questionou o Pontífice. Desta forma, o Papa se deteve em um aspecto que os discursos de exclusão não conseguem reconhecer ou parecem ignorar: a sabedoria dos bairros populares. Citando a sua Encíclica “Laudato Si”, o Pontífice explicou que se trata de uma sabedoria que “brota da resistência obstinada do que é autêntico, dos valores evangélicos que a sociedade opulenta, entorpecida pelo consumo desenfreado, parece ter esquecido”. Francisco propôs retomar a ideia de uma respeitosa integração urbana, sem erradicação e paternalismo, sem indiferença e mero confinamento. A dívida social e ambiental para com os pobres das cidades pode ser paga com o direito sagrado dos três “T”: terra, teto e trabalho.
Aos milhares de jovens, Francisco exortou a rejeitar o “açúcar da corrupção” que dissipa a alegria e a paz interior; o excesso da corrupção leva nações e instituições a sofrer de diabetes. A corrupção é um capítulo dramático para a África, mas também para numerosos países, como o próprio Vaticano. Este foi um dos aspectos que os jovens apresentaram ao Papa, além das grandes questões da sua terra, do tribalismo à chaga da corrupção, mas também os desafios das redes sociais, com sua influência nem sempre positiva, como também o drama das guerras, as crianças-soldado, as trágicas pressões internacionais que destroem a alma da África, as famílias, as sociedades, o ambiente. “A visita do Papa é um dom de Deus; Ele veio para reerguer a África na esperança e na fé, para encorajar e motivar o mundo porque nem tudo está perdido e para reforçar a nossa determinação em buscar fazer do Quênia a pérola da África”, disse o Arcebispo de Nairóbi, Cardeal John Njue. Francisco nestes dias pede que se olhe o mundo a partir das periferias, e que elas sejam transformadas em centros de humanidade. Agora toca a Uganda. (Silvonei José)