Lectio Divina - A escuta religiosa e piedosa da leitura sagrada - Por Padre Vinícius I. Campos
Pároco da Paróquia São José Operário - SJDR
Diante das indagações do dia a dia, das dificuldades, das provações e até mesmo das alegrias, onde buscar um porto seguro? Onde buscar um farol que oriente o nosso pobre barquinho no mar da vida? Diante dessas inquietações diárias resta-nos dizer como Pedro: “Senhor, a quem iremos? Tens palavra de vida eterna” (Jo 6,68). Movido pela inquietação do coração em querer escutar cada vez mais uma Palavra eterna é que devemos buscar sempre o exercício da Leitura Orante da Palavra de Deus, pois a Palavra de Deus é a “lâmpada para os meus pés, e luz para o meu caminho” (Sl 119,105). A Leitura Orante é o debruçar-se sem pressa para ouvir a voz do Senhor. Não se trata apenas de uma leitura para matar curiosidades, obter informações, mas sim, crescer cada vez mais na fé, fortalecendo o espírito. A Leitura Orante é um convite a abrir o coração para a escuta atenta da voz do Senhor. A esse respeito, a Constituição Dogmática “Dei Verbum”, sobre a Revelação Divina diz: “A Lectio Divina é a escuta religiosa e piedosa da leitura sagrada da Escritura” (DV 10). A Leitura Orante é um instrumento que ajuda a caminhar a partir da Palavra de Deus e, se por ventura sua vida já está sendo orientada por ela, que continue lhe dando força para dizer com mais confiança: “Fala, pois teu servo ouve” (1Sm 3,10). Isso porque “quem escuta a Palavra de Deus assume a força de Deus. E aceita não só o seu modo de ver, mas também o seu poder de transformar” (Dom Paulo Evaristo Arns). No exercício da Leitura Orante é proposto quatro etapas: - leitura - meditação - oração - contemplação. Assim, se trilha um itinerário espiritual de encontro cada vez mais profundo com Deus. A Leitura: O primeiro passo é ler o texto bíblico, reler quantas vezes for preciso, com calma, conhecer bem o que está escrito. É preciso ler o texto sagrado com respeito, sem atropelos, sem precipitadas interpretações. Durante a leitura é preciso estar atento às palavras, repetições, personagens, lugar, modo como foi escrito. Assim, na leitura atenta, sem presa descobriremos, neste primeiro passo, o que o texto diz em sim mesmo. A meditação: No segundo passo é preciso seguir o exemplo que desde os primeiros séculos do cristianismo os monges nos oferecem: meditar a Escritura sagrada, ou seja, “ruminar”. Aqui se trata de parar, tirar um tempo para perceber os toques de Deus. Meditar não é ler, mas sim abrir o coração à escuta. A meditação leva a compreender a palavra no hoje da história, na própria vida, dentro da realidade em que se está inserido. A oração: A meditação leva ao terceiro passo, a oração. Ao meditar a Escritura sagrada vai se entrando cada vez mais em um relacionamento amoroso e gratuito com Deus, assim, vai surgindo a oração. Diante do texto vai surgindo uma oração pessoal que acaba desembocando em uma oração comunitária. Pois, quem reza a Palavra se compromete, sente junto com os outros. A oração fortalece a caminhada de fé. A contemplação: No quarto passo chega-se a contemplação que não é algo intelectual, alucinação, desequilíbrio. Quem contempla se compromete, de fato, com os valores do Reino, tem um novo modo de ver e se comportar no mundo. A contemplação leva a um equilíbrio interior, um encontro com Deus que gera um verdadeiro testemunho uma atitude continuada no dia-a-dia por uma ação transformadora. Que a Palavra de Deus leve todos a conseguir força para vencer, por ventura, o deserto da vida, o cansaço, o desânimo e a tentação de deixar tudo. Não tenha medo de escutar e colocar em prática esta Palavra, não invente desculpas para fugir dela, pois “a Palavra está muito perto de ti: está na tua boca e no teu coração, para que a ponhas em prática” (Dt 30,14). Que a Palavra do Senhor seja a luz a iluminar e oferecer um colorido novo para a sua vida. Escancare o seu coração para acolher esta Palavra eterna...