Por vezes confundido erradamente com a devoção a Nossa Senhora da Arrábida, que a tradição afirma datar de 1215, o culto medieval a Nossa Senhora do Cabo ou Santa Maria da Pedra de Mua é documentalmente mencionado pela primeira vez numa carta régia de D. Pedro I, datada de 1366 e constitui uma das mais antigas e interessantes manifestações de religiosidade popular em Portugal.
Divulgado o miraculoso achamento da imagem de Nossa Senhora no espigão rochoso do Cabo Espichel, muito rapidamente o culto terá levedado, não só entre as localidades mais ou menos vizinhas da margem sul do Tejo, mas sobretudo na margem norte do rio, recobrindo praticamente todo o território da região saloia. Aqui viria a atingir assinalável relevo, ficando conhecido pela designação de "círio saloio", "círio real" ou "círio do bodo", tendo não poucas vezes contado com a especial proteção da Família Real.
É possível - até provável - que o culto a Nossa Senhora do Cabo constitua a cristianização tardia de cultos muito anteriores que houvessem jásobrenaturalizado o local, num contínuo de sucessivas sacralizações que se estendem desde a época pré-histórica até ao domínio muçulmano. Azona saloia onde a devoção à Senhora do Espichel irá assumir eloquentíssima expressão é, precisamente, uma região cultural e antropológica de forte substracto mouro; e a vizinha localidade da Azoia (do árabe az-zawiya) indica a existência de antigas peregrinações ao túmulo de um homem santo, das quais os círios em honra da Senhora do Cabo constituiriam afinal a (re)atualização cristã.
Quanto à época em que se terá verificado o achamento da imagem da Senhora, Frei Agostinho de Santa Maria é pouco esclarecedor: «Quanto ao tempo em que a Senhora apareceu, não podemos certamente dizer o ano em que foi (…)»; no entanto, logo adianta ser certo «que foi no reinado del Rei Dom João Primeiro» (17, Tomo II, p. 475). Frei Cláudio da Conceição concorre com esta opinião, afirmando peremptoriamente que «esta função [o culto à Senhora do Cabo] é muito antiga, data do tempo do Senhor Rei D. João I» (5, p. 361). Sabe-se, todavia, que ao contrário da opinião destes dois autores, o culto estava já plenamente estabelecido no século XIV, conforme o atesta um documento da chancelaria de D. Pedro I.

Só que já não era a primeira vez que Diogo Mendes de Vasconcelos tentava oferecer a Ermida do Espichel para ali se edificar um convento. De fato, Frei José Pereira de Santana (19, p. 822) reproduz a «carta de consentimento e autoridade» passada em 22 de Fevereiro de 1414 pelo cónego da Sé de Lisboa Estêvão Gonçalves, em nome do Arcebispo de Lisboa D. João Afonso de Azambuja, na qual afirma que «Diogo Mendes Commendador de Cezimbra me mandou dizer, que na dita sua Commenda de Cezimbra é edificada sua Ermida, a quem chamam Santa Maria do Cabo, que se logo [lugar] de grande romagem, e devoção (…): e que (…) ele por o bem, e saúde de sua alma, e remuimento de seus pecados queria fazer pura, e irrevogável doação da dita Ermida, e oferecia o ditoOratório, e logo onde ele está ao Mosteiro de Santa Maria do Carmo de Lisboa (…).»
Outras datas foram sendo mencionadas por diversos autores, mas sem qualquer base documental conhecida. Num manuscrito inédito intitulado "Aparições de Nossa Senhora da Luz, do Cabo Espichel, etc.", que datamos dos finais do século XVI, afirma-se que a imagem foi encontrada em1275, data que todavia não é mencionada em qualquer outro documento. Por seu turno, o "Dicionário Histórico, Corográfico, etc." de Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues (1904/1915) popularizou a data de 1250, que foi retomada pela "Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira", mas para a qual não encontramos quaisquer indicações concretas. Por este motivo, consideramos que estas datações não oferecem crédito.
Fonte_http://pt.wikipedia.org