sexta-feira, 24 de julho de 2015

A velhice e a solidão - Por Pe. Clayton Nogueira

Pároco da Paróquia Nossa Senhora de Fátima
Bacharel em psicologia
A velhice é objeto de estudo na medicina, na psicologia e na religião. Na sociedade do descartável e do consumo desenfreado, a velhice é vista com preconceitos conforme o dicionário a define: “Estado ou condição de velho; Idade avançada; Antiguidade, vetustez; Rabugice ou disparate próprio de velho.” (FERREIRA, 2009, p. 2043). É uma terminologia carregada de preconceito, que exclui a beleza da velhice no valor dos anos já vividos e principalmente a falta de respeito humano, dando esta conotação de desprezo total por aquele que vive a ultima fase do existir humano.
Mas ser velho é: “Ter diversas idades: A idade do seu corpo, da sua história genética, de sua parte psicológica e da sua ligação com sua sociedade. É a mesma pessoa que sempre foi; se foi um trabalhador, vai continuar trabalhando; se foi uma pessoa alegre, vai continuar alegrando; se foi uma pessoa insatisfeita, vai continuar insatisfeita; se foi ranzinza, vai continuar ranzinza... Ser velho é ter mais experiência, mais vivência, mais anos de vida, mais doenças crônicas, mais perdas, sofre mais preconceito e tem mais tempo disponível. No momento em que utiliza mais sua experiência, a vivência de longos anos de vida, aprende a conviver com suas doenças crônicas e próprias de sua idade; elabora melhor suas perdas, não esquecendo seus ganhos; dribla os preconceitos e aprende há utilizar seu tempo. Ele continuará curtindo a vida, gozando as coisas boas e sendo feliz. Fazer planos para o amanhã é viver”. (ZIMERMAN, 2000, p. 19-20) Muitos reclamam da solidão, que para alguns velhos é parte do seu dia-a-dia, alguns a encaram com serenidade, outros com lamentação, “ser velho é uma realidade imposta, ninguém gostar de ficar velho, mas viver é envelhecer. Com o passar do tempo e serenidade é preciso tocar essa realidade e perceber que na família constituída, eles não são mais os galhos frutíferos, passaram no momento a ser troncos, dos quais surgiram os filhos, netos, genros e noras, que são a sua continuação” (ZIMERMAN, 2000, p.30). Leonardo Boff em um artigo “oficialmente velho” quando completou setenta anos de vida, fez questão de citar este autor que retrata bem o seu envelhecer com dignidade: “[...] É a última etapa do crescimento humano. Nós nascemos inteiros. Mas nunca estamos prontos. Temos que completar nosso nascimento ao construir a existência, ao abrir caminhos, ao superar dificuldades e ao moldar o nosso destino. Estamos sempre em gênese. Começamos a nascer, vamos nascendo em prestações ao longo da vida até acabar de nascer. Então entramos no silêncio. E morremos. A velhice é a última chance que a vida nos oferece para acabar de crescer, madurar e finalmente terminar de nascer. Neste contexto, é iluminadora a palavra de São Paulo: ‘na medida em que definha o homem exterior, nesta mesma medida rejuvenesce o homem interior’ (2 Cor 4,16). A velhice é uma exigência do homem interior. Que é o homem interior? É o nosso eu profundo, o nosso modo singular de ser e de agir, a nossa marca registrada, a nossa identidade mais radical. Esta identidade, devemos encará-la face a face”. (FREITAS, 2010, p. 52). Sem receio, sem isolamento e com plena convicção, podemos definir que ser velho é um estado de espirito, por mais que o tempo não para, envelhecer é sempre o outro, não conseguimos ver em nós esta condição. Por isso hoje é fácil identificar que muitos velhos se sentem jovens no espirito, e há uma multidão de jovens que já são velhos de espírito. Por isso, a velhice, deve ser vivida não com sentimento de solidão, mas como a ultima e mais nobre etapa do existir humano, por que é nela que terminamos de crescer, madurar e finalmente morrer para a conquista definitiva da vida eterna.